domingo, 17 de janeiro de 2010

...: dueto :...

...: eternamente quarenta e sete :...

Parecia meio furada a meia, meio querendo se aposentar... mas ainda aquecia os pés, feito um último esforço, ou o único possível. Inverno cinza naquela cidade estranha, num ano que não me lembro ao certo. O tempo corrente se trata de uma sensação atemporal, de uma stória de um velho que já nasceu velho, de um ranzinza em inverno cinza procurando o outro par da meia meio furada. O mundo lá fora se tornou cada vez mais high tech, tudo se move pelas ondas de uma rede virtual, o piscar de olhos e o cara-a-cara não têm vez, como se fossem uma forma de perder tempo, dorme-se com um olho acordado, um olho no gato e outro na tigela. Esse é o clima da atmosfera contemporânea, essa é a velocidade com que se movem as notícias, essa guria do momento só dura um dia, repete-se o refrão da música da hora, uma onda atropela a outra onda que atropela a outra onda, fazendo quase nada durar. Quinze minutos de fama em live shows, e uma vida inteira contada em propagandas de cerveja. O velho tem quarenta e sete. Tem hoje e sempre teve. Ele acompanha as notícias, vê o mundo pela internet, enxerga longe com seus olhos calibrados e velhos. O velho é moderno no uso das ferramentas, é moderno e evita que a ferrugem da nascença o faça antigo. O velho é moderno e se acostuma a novas tecnologias, faz parte da evolução, exibe com orgulho a novidade recente. Mas a novidade a garotada já conhece de cor, pois não há nada de realmente novo nas novas novidades. Só o gosto restaurado ou o resurgimento do antigo. O novo nasce velho.

...: meio de música :...

E vou viver as coisas novas
Que também são boas
O amor, humor das praças
Cheias de pessoas
Agora eu quero tudo
Tudo outra vez...

(belchior - tudo outra vez)