sexta-feira, 18 de novembro de 2005

::: história triste número 715 :::

Eu já fugi de uma ovelha num campo de futebol, enquanto o resto do time aguardava o término do meu ataque de histeria. Quando pequeno, era atropelado por pneus com certa freqüência, naquelas brincadeiras de rolar objetos cilíndricos ladeira abaixo. Eu não sei o que é um cilindro e perdi o compasso nos primeiros dias de aula. Lembro dos meninos menores de braços cruzados no campo, alguns se sentaram, e eu fugia em círculos de uma ovelha furiosa que balia atrás de mim, sim, furiosa, eu podia ver a maldade nos olhos da lanígera. Lembro do centroavante abaixando o meião e do goleiro tirando um cubo mágico das calças. Lembro do juiz deitado de barriga pra baixo tentando não morrer de rir e dos olhos da ovelha cravados em mim, as batatas das patas tremelicando conforme ela ganhava terreno em minha direção. Alguns jogadores já tinham comprado guaranás em lata quando a ovelha finalmente me derrubou, na meia-lua do campo adversário — segundo testemunhas, me deu umas lambidas. Cansou do meu gosto de medo e foi comer umas gramas. Eu não me lembro de nada. Fui direto para o pronto-socorro aonde me levaram quando fui atropelado por um pneu. Minha mãe apareceu na sala de emergência arrastando os pés, assinou os papéis da minha internação sem olhar e perguntou para o médico o que tinha sido daquela vez. Seu filho fez cocô no quimono, respondeu o instrutor de judô, por isso eu desisti de todos os esportes. Do boliche sobretudo, porque fiz um strike com a minha própria cabeça, antes de ser guilhotinado pelo recolhedor de pinos.

(a hortaliça - edição 65) ...

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